3 de mar. de 2009

PREÇO DECIDE A VENDA ?

Por muitas vezes ao acompanhar o retorno dos vendedores, depois de um dia de trabalho, encontrava alguns deles que não haviam obtido sucesso em convencer os seus clientes a comprarem os produtos que tinham a oferecer. É realmente frustrante, para o vendedor, ter que relatar este insucesso. Já foi o tempo que para o vendedor a palavra "não" poderia ser considerada como certa de ocorrer. O vendedor "no passado" trabalhava no sistema de tentativa e erro. De uma forma não preparada ia buscando negócios sem fazer o preparo prévio da visita, sem conhecer profundamente as necessidades de cada cliente. Alguns desses vendedores que voltam no final do dia sem o "pedido" têm alegado que os clientes não compram porque o produto é caro.
Esta palavra caro sempre soa de forma ruim para mim porque para tudo que tem um preço elevado nós, em todas as nossas atividades de compra, alegamos: é caro! Está errado. Estão errados esses vendedores que dizem que o cliente não comprou porque julgou o preço caro. A minha conversa com esses vendedores sempre vai por um caminho muito simples: se o seu cliente achou que o produto está caro é porque você não foi capaz de estabelecer valor em sua oferta. É só esta a razão da não venda. O cliente, na verdade, estava dizendo para o vendedor: eu não vejo nenhum benefício em comprar este produto, ou eu não ganho nada com este produto, ou pelo preço que você me oferece não vejo valor algum. Daí a sua correta expressão: é caro! É caro é a forma de dizer que um produto, pelas condições apresentadas e entendidas pelo comprador, não vale o preço ofertado. Tenho claro que este é um grande problema a ser enfrentado pelos vendedores. Caro, por exemplo, é um automóvel popular a preço de automóvel esportivo de luxo e importado, ou então um whisky produzido no Brasil com preço de whisky produzido na Escócia. A relação entre benefício e preço estaria desequilibrada, por isto é caro! Não tem qualquer relação com qualidade do produto ofertado. Cada produto tem seu preço definido por fatores relativos: custo de um lado e posicionamento de imagem do outro. Se o cliente dissesse que o preço da oferta é muito alto, distante da sua capacidade disponível de recursos para pagar, a conversa seria outra. Seria o momento de buscar uma forma de adaptar a oferta com a condição de recursos disponíveis ou, financiar este preço adequando-o então à capacidade de pagamento deste cliente. A conversa tomaria outro rumo.
Também acho errada a expressão "barato" para tudo que tem preço baixo. Produto de preço "barato" eu desconfio. É muito produto para pouco preço. Dos dois exemplos acima inverta os casos: whisky escocês a preço de brasileiro e uma Ferrari zero quilômetro a preço de um VW Polo! É muito barato, desconfio que terei algum problema ao comprar estes produtos.
A grande dificuldade que estes vendedores têm é estabelecer valor em sua oferta. Valor é uma avaliação subjetiva de uma combinação de benefícios recebidos em troca de custos incorridos para avaliar, obter, utilizar e descartar um produto, considerando o mercado e suas ofertas concorrentes. O problema do vendedor começa pelo fato de valor ser uma avaliação subjetiva. É subjetiva porque cada cliente levará em consideração benefícios específicos e vai relacionar estes benefícios com o custo da oferta. Um valor, portanto, é perceptivo, contextual e multidimensional:
-É perceptivo porque varia conforme a percepção do cliente;
-É contextual porque varia conforme a situação de compra e as alternativas disponíveis;
-É multidimensional por que os clientes avaliam os benefícios em termos econômicos, técnico-funcionais e psicológicos.
Benefício responde a pergunta do cliente: O que eu ganho com isto? E pode ser econômico, funcional e psicológico:
-Valor Econômico é uma relação de qualidade e preço. Se um cliente percebe a qualidade de produtos concorrentes como similar, escolheria a oferta de preço mais baixo, por proporcionar maior economia;
-Valor Funcional são as características tangíveis relativas às características, vantagens (os atributos) sua durabilidade e aplicações;
-Valor Psicológico são as características e vantagens intangíveis, tais como serviços, marca, confiança, reputação, relacionamento, experiência.
É necessário ainda estabelecer o custo para relacionar com o benefício. Custo pode ser monetário e não-monetário:
-Custo Monetário é o preço pago considerando tudo que está embutido objetivamente lá dentro (preço, impostos, despesas de entrega, manutenção, etc.);
-Custos não-monetários tendem à subjetividade e são relativos aos esforços, ao tempo da compra, à distância percorrida, entre outros.
Um dos fatores críticos de sucesso para aqueles vendedores que não conseguem vender, porque o cliente "acha" que o produto é caro, é o treinamento do conceito da venda de valor e sua aplicação efetiva no seu dia-a-dia e para cada cliente.
Venda de valor é a venda feita em partes. Para cada parte da oferta um benefício ao cliente deve ser explorado. As partes de uma oferta estão em torno dos benefícios e valores indicados acima. Uma oferta não é composta apenas do produto físico. Uma marca, um serviço de apoio, um acompanhamento de uso, a solidez da empresa, a atitude do vendedor, o serviço logístico, a pronta resposta aos problemas do cliente, entre outras, fazem parte das "partes" de uma oferta. E, para cada uma destas partes da oferta cabe ao vendedor criar o clima e o argumento adequado para o cliente perceber cada benefício.
A compra do cliente será feita pela somatória dos benefícios: isto é uma venda de valor. Se a partir daí um cliente alega que um produto "é caro" fica fácil ao vendedor perguntar a ele "O que, na minha oferta, não tem valor?".
E para nós, de um modo geral, precisamos parar de usar de forma errada a expressão "é caro" para tudo que tenha valor monetário alto.

Um comentário:

  1. Muito bom o post! Gostei mesmo!

    Ao menos na minha humilde opinião, eu vejo que muitos vendedores desistem quando cliente diz "é caro", por que eles vendem o produto pensando o mesmo(que é caro). Eles antes tem que vender o produto para si mesmos se colocando no lugar do cliente(eu ao menos faço isso para treinar a argumentação).

    E na parte "O que, na minha oferta, não tem valor?", eu prefiro pergntar "Hum... E quanto é um valor barato ao seu ver?", depois da resposta dele eu agrego valor, ou para ver se está realmente caro(se no concorrente eles tem mais vantagens que no meu ou não).

    Parabéns por esse post...

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